Sex, 30 de maio de 2025, 09:03

Projeto Mangabatinga encerra com sucesso e fortalece comunidades extrativistas de Sergipe
Universidade Federal de Sergipe integra saber popular e ciência, reforçando a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.

No último dia 22 de maio, a Universidade Federal de Sergipe, no Campus São Cristóvão, recebeu catadoras e catadores de mangaba e parceiros do Projeto Mangabatinga para um dia de confraternização e troca de conhecimentos. O evento marcou o encerramento de um projeto que reforçou a assistência técnica e a extensão rural para comunidades extrativistas que trabalham com espécies nativas, especialmente a mangabeira.


Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)
Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)

A programação teve início às 8h30, com acolhimento e exposição dos avanços do projeto no auditório do curso de Medicina Veterinária. Em seguida, os participantes visitaram diversos laboratórios relacionados à pesquisa com espécies nativas, bem como a Unidade Demonstrativa de Produção Animal Agroecológica (UDEPA). Após o almoço no Restaurante Universitário, a tarde contou com visita aos laboratórios de sementes florestais e uma roda de conversa sobre viveiro florestal, produção de mudas e comercialização de espécies no Viveiro Florestal do Departamento de Ciências Florestais.


Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)
Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)

Em entrevista exclusiva ao bolsista em jornalismo Mateus Ferreira do nosso centro (CCAA), a professora Laura, coordenadora do projeto, destacou a importância estratégica do Mangabatinga para o estado e para as comunidades envolvidas:

“O projeto, por si só, representa um avanço em várias atividades que já vinham sendo desenvolvidas por um grupo de docentes dos cursos de Engenharia Florestal, Engenharia Agronômica, Ecologia, Biologia e Engenharia de Alimentos. Com a chegada do edital da Fapitec, conseguimos fortalecer essas ações e expandir o projeto para outras localidades.
O diferencial do Projeto Mangabatinga é que ele contempla uma lacuna que existe tanto no nosso estado quanto no Brasil: a ausência de assistência técnica e extensão rural voltadas às comunidades extrativistas, especialmente aquelas que trabalham com espécies nativas — como é o caso da mangabeira. O poder público, infelizmente, não atua nessa linha, e a extensão universitária entra justamente para suprir essa ausência, trazendo conhecimento técnico-científico aliado ao saber popular. É uma via de mão dupla.
Outro ponto importante é que o projeto é voltado à saúde das árvores — especialmente da mangabeira, mas também do murici e do cambuí — e à produção de mudas. A gente trabalha com a produção de mudas no viveiro e com práticas de manejo, já que essas árvores enfrentam sérios problemas com pragas e doenças. Compartilhamos esse conhecimento com as comunidades, promovendo uma troca de saberes.
Falamos também sobre a polinização da mangabeira — que, diferente do que muitos pensam, não é feita exclusivamente por abelhas, mas por mariposas. Esse é um conhecimento tradicional que, infelizmente, tem se perdido. As pessoas mais idosas ainda sabem disso, mas os mais jovens, não.
Também orientamos sobre a produção de mudas para fins comerciais. As comunidades já produzem mudas, mas quando se trata de comercialização, é preciso seguir critérios técnicos relacionados à saúde das sementes e das mudas para evitar a disseminação de pragas e doenças.
Um dos pontos centrais do projeto foi incentivar a troca de sementes entre comunidades. Por exemplo, um catador tradicional de mangaba de Aracaju pode trocar sementes com alguém de Pirambu. Essa troca é essencial para garantir a variabilidade genética das plantas, o que é fundamental, já que as áreas de mangabeiras têm sido reduzidas pela fragmentação florestal e expansão urbana. Quando a variabilidade genética é baixa — como no cruzamento entre plantas “parentes próximas” — a produção de frutos diminui, assim como a qualidade das mudas.
O projeto também trabalha para atrair e manter polinizadores nas áreas de mangabeiras. Eles precisam sobreviver durante todo o ano, não apenas na época de floração. Por isso, recomendamos manter plantas floridas nas redondezas — inclusive aquelas chamadas de “mato” — pois ajudam na sobrevivência dos polinizadores. Além disso, a iluminação pública nas áreas urbanas próximas pode afastá-los do local, prejudicando ainda mais a polinização.
Hoje foi um momento muito especial para nós: receber as catadoras e catadores de mangaba aqui na universidade. Eles puderam ver o local e como o conhecimento técnico-científico é gerado, visitar laboratórios, conhecer os espaços dos estudantes, o restaurante universitário... Sabemos que é um sacrifício para eles, pois deixaram de trabalhar um dia inteiro para estar aqui. Tivemos um número menor do que o esperado, mas ficamos muito felizes com a presença de cada um.
Essa troca é fundamental. A gente leva conhecimento até as comunidades, mas também aprende muito com elas. É uma prática inspirada na pedagogia de Paulo Freire: dialógica, participativa e respeitosa.”


Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)
Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)

O projeto atuou em três comunidades extrativistas principais: Santa Maria, em Aracaju, com assistência técnica; Assentamento São Sebastião, em Pirambu, e Ribuleirinha, no município de Estância, ambos por meio de oficinas.

Participantes da universidade também relataram suas experiências. Jolly Barreto, estudante de Engenharia Florestal, enfatizou a importância de aprender junto com as comunidades:

“Eu considero essa experiência extremamente importante para compreender como a universidade e a sociedade podem — e devem — atuar juntas. Foi um processo de aprendizado sobre como tratar a comunidade como protagonista desse processo de fortalecimento. Acredito que esse é o maior valor da experiência: perceber que o papel da universidade não é apenas ensinar, mas aprender junto com quem está fora dela.”


Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)
Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)

Wanessa Santos, outra estudante voluntária do projeto, destacou o impacto pessoal e profissional da vivência:

“Foi uma experiência muito construtiva para a minha carreira e me direcionou para uma área que eu não conhecia — nunca havia trabalhado com extensão antes. Foi algo realmente interessante e transformador para mim. Além disso, as trocas de saberes com as comunidades abriram um novo mundo para todos nós da equipe.”


Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)
Foto: Ana Beatriz de Oliveira França & Zenilde Maria Rodrigues Santos (Alunas da Zootecnia)

O encerramento do Projeto Mangabatinga não apenas simboliza a conclusão de uma importante etapa acadêmica, mas também reafirma o compromisso da Universidade Federal de Sergipe com a valorização da cultura local, a conservação ambiental e o fortalecimento das comunidades extrativistas. Por meio da integração entre ciência e saber popular, o projeto deixa um legado duradouro: o respeito à biodiversidade e a promoção de um desenvolvimento sustentável que envolve, acima de tudo, pessoas. Essa iniciativa é um exemplo inspirador de como a universidade pode ser agente transformadora na construção de um futuro mais justo e equilibrado para Sergipe e para o Brasil.


Publicado por Marília Gabriely Nunes Meneses / ASCOM CCAA


Atualizado em: Sex, 30 de maio de 2025, 09:13
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