O trabalho conjunto entre a Universidade Federal de Sergipe (UFS), a Embrapa Tabuleiros Costeiros, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) e o Fórum Popular de Economia Solidária com a Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba Padre Luiz Lemper, de Aracaju, foi reconhecido nacionalmente durante cerimônia realizada na última terça-feira, 20, no Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília. A associação conquistou o primeiro lugar na categoria 'Povos e Comunidades Tradicionais' do Prêmio Guardiãs da Sociobiodiversidade, entregue pela ministra Marina Silva à presidente da entidade, Maria Eliene Santos.
O reconhecimento é resultado de uma trajetória de luta coletiva, protagonizada por mulheres extrativistas e fortalecida por parcerias institucionais comprometidas com a defesa da sociobiodiversidade. Ao longo dos últimos anos, a UFS tem atuado ativamente com a associação por meio de projetos de extensão e pesquisa voltados à proteção territorial, ao fortalecimento comunitário e à conservação ambiental, em diálogo constante com as demais instituições parceiras.
A universidade participa da mobilização desde 2018, por meio do Programa de Educação Ambiental com Comunidades Costeiras (PEAC) e do projeto Observatório Social dos Royalties (OSR). A professora Christiane Campos, do Departamento de Economia (DEE/UFS) e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UFS), destaca que esse trabalho tem sido essencial para o reconhecimento da associação como comunidade tradicional.
“O nosso objetivo tem sido o de subsidiar tecnicamente a luta das catadoras, oferecendo suporte para que compreendam seus direitos e resistam às violações que vêm sofrendo, especialmente por parte do poder público local. Foi com base em estudos interdisciplinares, mapeamentos socioeconômicos e ambientais, que conseguimos demonstrar a importância de proteger não só as mangabeiras, mas a comunidade que delas depende para viver”, explica a docente.
A atuação da UFS também contribuiu para a elaboração de relatórios técnicos solicitados pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), reforçando a relevância ecológica, cultural e socioeconômica da área localizada no bairro 17 de Março, em Aracaju. Essa base técnica foi fundamental para a criação da Reserva Extrativista (Resex) Mangabeiras Missionário Uilson de Sá e para a concessão do Termo de Autorização de Uso Sustentável (TAUS).
Para Josefa de Lisboa Santos, pró-reitora de Extensão e Cultura (Proex/UFS), a premiação reafirma o papel social da universidade pública. “Esse é o reconhecimento da luta de mulheres que se organizam para defender seu território e dos esforços da universidade para apoiar essas lutas. A UFS tem estado ao lado da comunidade, ajudando na produção de documentos, no diálogo com o Ministério Público, na assessoria técnica. Isso mostra que estamos cumprindo nossa missão social de fortalecer os grupos mais vulneráveis e contribuir com uma sociedade mais justa”, afirmou.
A inscrição da associação no Prêmio Guardiãs da Sociobiodiversidade foi resultado direto dessa articulação coletiva, com apoio formal da UFS, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, do Ibama, do Movimento Nacional de Direitos Humanos e do Fórum Popular de Economia Solidária, que elaboraram cartas de recomendação e acompanharam todo o processo. A professora Christiane Campos (UFS) e a pesquisadora Raquel Fernandes (Embrapa) mobilizaram esforços junto à comunidade para tornar a candidatura viável.
“Esse prêmio foi muito importante para nós, catadoras. Sempre me senti uma guardiã da natureza, mesmo sem esse título. Agora temos esse reconhecimento, aqui da nossa cidade. Somos gratas à UFS e à Embrapa, que acreditaram em nossa luta”, celebrou Maria Eliene Santos, presidente da associação.
O Prêmio Guardiãs da Sociobiodiversidade, vinculado ao Programa Nacional de Repartição de Benefícios (PNRB), valoriza o papel pedagógico das comunidades tradicionais na construção de modelos sustentáveis de uso dos recursos naturais e destinou R$ 45 mil à associação, recurso que será investido em ações voltadas para o fortalecimento comunitário e institucional da comunidade.
Estudos realizados pela UFS e Embrapa têm demonstrado que as práticas extrativistas adotadas pelas catadoras de mangaba ajudam a preservar o ecossistema local, melhorar o microclima da região e mitigar alagamentos frequentes, evidenciando a relação de interdependência entre natureza e sociedade construída por essas mulheres.
Ascom UFS